O QUE É VOTO DISTRITAL?

10/08/2021

Voto distrital misto


O sistema de voto distrital misto é uma mistura entre o sistema majoritário, que faz uso do voto distrital puro e o sistema proporcional. Em um sistema distrital misto, metade das vagas dos deputados e vereadores continuaria a ser preenchida de acordo com o sistema proporcional atual, em que os candidatos mais votados de cada partido ou coligação são eleitos - não necessariamente o candidato com mais votos no geral.

Já a outra metade de vereadores ou deputados passaria a ser escolhida pelo sistema distrital, de maioria simples. O estado ou o município seria "recortado" em regiões de acordo com o número de cadeiras a serem preenchidas na eleição, formando assim os distritos. Cada distrito teria uma cadeira, pra qual elegeria uma pessoa. O voto distrital faz com que o voto do eleitor vá direto ao candidato, fazendo com que o candidato mais votado de fato se eleja - como funciona com candidatos para presidente, governador, prefeito, senador.

Ou seja, se fossem 10 vagas para cargos eletivos a serem preenchidas numa eleição para deputado ou para vereador, 5 delas seriam preenchidas por meio da votação proporcional e as outras 5 por meio da votação distrital.

Como fica o eleitor com o voto distrital misto?


O eleitor teria dois votos, um para um candidato que estiver concorrendo dentro de seu distrito, outro para um candidato que estiver concorrendo na eleição ampla (de todo o estado ou município). No voto distrital, o eleitor só poderia votar nos candidatos de dentro de seu distrito. No voto proporcional, em quaisquer candidatos concorrendo às vagas amplas.

Por que o voto distrital misto pode ser bom...

Os defensores do distrital misto argumentam que um sistema que mistura voto de maioria e voto proporcional consegue atender, ao mesmo tempo, os interesses regionais e os interesses da população como um todo.

Por que o voto distrital misto pode ser ruim...


O distrital misto é criticado porque ainda mantém parte do sistema proporcional, o que já é a realidade de hoje. Além disso, essa mistura de dois sistemas, ao invés de facilitar, poderia complicar ainda mais as coisas para os eleitores.

Qual seria o impacto?


Uma simulação realizada pelo Centro de Liderança Pública (CLP) - e publicada pelo Portal do Estado de S. Paulo - mostra como ficariam as eleições de 2018 para deputado federal, caso o voto distrital misto já tivesse sido implementado. Segundo o estudo, haveria uma renovação de cerca de 25% da Câmara. Isso significa que dos 513 deputados, 382 provavelmente manteriam sua vaga e 131 deputados não seriam eleitos.

Distritão


No distritão, cada estado ou município seria um distrito, não haveria sua separação em distritos menores. Diferente do sistema proporcional, em que são eleitos os mais votados dentro de cada partido, no distritão contam os votos para os candidatos. Os deputados e vereadores mais votados seriam os eleitos, sem levar em conta os votos no partido ou legenda. As sobras dos votos não seriam mais aproveitadas para distribuir cadeiras entre os partidos. Podemos fazer comparação com uma corrida, em que tudo é muito simples: quem chegar na frente sobe ao pódio (a Câmara de Deputados ou de Vereadores); os demais ficam de fora.

Por que o voto distritão pode ser bom...


O distritão tem a vantagem de acabar com os puxadores de voto, trazendo o fim ao "efeito Tiririca" gerado pelo sistema de votos proporcional. O "efeito Tiririca" acontece pelo seguinte motivo: um partido de grande expressividade e relevância, que recebe muitos votos, ganhará o direito de ter um número de cadeiras proporcional aos votos que recebeu. Isso faz com que, muitas vezes, candidatos menos votados sejam levados aos cargos, pois em seu partido houve um candidato muito votado - em 2010, Tiririca recebeu 1,35 milhão de votos - um número muito alto para a média -, conseguindo além da sua cadeira, vaga para mais 3,5 colegas de partido ou coligação.

Por que o voto distritão pode ser ruim...


O distritão é criticado por diversos motivos. Alguns têm a ver com as críticas recebidas pelo voto distrital original. O distritão cria distorções na votação, pois partidos bem votados podem ter poucos deputados e vereadores, e outros nem tão bem votados podem ter vários; como só os votos dos candidatos que vencem são aproveitados, uma grande quantidade de votos é desperdiçada com os candidatos que não serão eleitos.

O distritão retira completamente a importância dos partidos na corrida política, pois não são mais contabilizados os votos depositados nas siglas ou legendas, tornando irrelevante a sua existência. Também aumenta o personalismo das campanhas, ou seja, a figura e o carisma dos candidatos se tornam mais importantes que os partidos e suas ideologias; as campanhas viram uma disputa de personagens, e não de partidos ou propostas.

A crítica mais grave e relevante é a que leva em conta as reais chances de cada candidato. O distritão tornará evidente a corrida pessoal e individual que serão as eleições, o que também ressaltará os candidatos mais ricos - que têm "patrocínios", apoios e mais tradição na política - do que aqueles que são novos no meio e buscam uma maneira de fazer política independente - com financiamento coletivo, por meio de apoios menos significativos economicamente. A disparidade seria muita. Há que se levar em conta que os partidos maiores, que têm mais dinheiro e recebem financiamento privado de milhões de reais, teriam muito mais oportunidade de alavancar seus candidatos frente a partidos menores e menos expressivos, ou mesmo os de viés mais independente.

O distritão está em 2% dos países no mundo


Há diversos sistemas eleitorais ao redor do mundo, mas o distritão não é a escolha mais popular para a votação de representantes das Câmara baixa (no caso do Brasil, a dos Deputados Federais) e alta (o Senado). Dos 200 países que tiveram seus sistemas eleitorais analisados pelo Instituto Internacional da Democracia (Idea), apenas 2% adota o distritão como o modelo para eleger seus representantes legislativos.

 Os países que adotam esse modelo são: Jordânia, Afeganistão, Ilhas Pitcairn e Vanuatu.

O modelo distrital e suas variações são utilizadas em 39% dos países, mas o distritão, tal qual o é, se limita àqueles países. O Japão já teve experiências eleitorais com o modelo do distritão, que duraram de 1948 a 1993; o abandono desse sistema foi justificada por ele favorecer a disputa individual entre os candidatos, estimular a corrupção e o uso de caixa dois.

No mundo, distritão só existe em 2% dos países.

Com pouco mais de 50 habitantes, as Ilhas Pitcairn, no Pacífico Sul, poderão, em breve, ser um referência para o Brasil. E não por suas belezas naturais. O atual modelo de sistema eleitoral defendido pelo PMDB na reforma política, o chamado distritão, é adotado no pacato arquipélago e em apenas outros três lugares no mundo: Vanuatu (outra ilha do Pacífico), na Jordânia e no Afeganistão. O distritão tem uma lógica simples de escolha. Vence no distritão, que seria um estado, os candidatos a deputado mais votados. Mas essa simplicidade não é sinônimo de maior preferência entre os países.

Uma lista com 200 países elaborada pelo International Institute of Democracy (Idea) mostra que nada menos de 38% usam o modelo proporcional, o mesmo usado atualmente no Brasil, que leva em conta os votos dos partidos na definição de quem é eleito. Outros 39% utilizam o sistema distrital e suas variações. Nesse modelo, os estados são divididos em distritos e é eleito o mais votado em cada um deles. O sistema internacionalmente classificado como Single Non-Transferable Vote (SNTV), mas aqui batizado de distritão, existe em apenas 2% dos países. No anos 1990, o Japão abandonou o distritão sob alegação de que favorecia a lógica da disputa individual e estimulava casos de corrupção e caixa dois.

Nos últimos dias, cientistas políticos têm apontado problemas que o Brasil poderá aprofundar se adotar o distritão, como o alto custo das campanhas, a hiperpersonalização e o enfraquecimento dos partidos. Professor de ciência política da UFMG, Carlos Ranulfo argumenta que o distritão tende a manter os atuais deputados e, por isso, tem apoio na Câmara.