As mudanças climáticas não são uma ameaça distante, elas estão acontecendo agora mesmo. Os últimos três anos foram mais quentes do que qualquer outra época.
As ações pelo clima devem vir de baixo para cima. Nós já estamos vendo o maior impulso nesse sentido vir de pessoas que estão enfrentando desafios diários por causa das mudanças climáticas.
60% da vida selvagem do mundo desapareceu nos últimos 45 anos. Prioridade é protege paisagens importantes ao redor do mundo para preservar a rica biodiversidade nos variados biomas.
Proteger e restaurar florestas, melhorando a agricultura, ajudando comunidades a construir resiliência e trabalhando para garantir um futuro com energia limpa.
Nós precisamos deter a marcha catastrófica das mudanças climáticas, para que comunidades e paisagens possam sobreviver.
A crise climática não é mais uma preocupação sobre o futuro. Em muitas partes do mundo, ela já começou.
O ano de 2021 foi o mais quente já registrado. Milhões de pessoas estão vivendo em temperaturas extremas, enfrentando uma ameaça crescente de enchentes ou incêndios florestais.
"O desenvolvimento econômico e o crescimento populacional estão entre os mais importantes promotores do aumento da emissão de gás carbônico por meio da combustão de combustível fóssil", atestam os especialistas. Eles indicam "as atividades humanas problemáticas: o aumento crescente das populações humana e de gado, a perda global de cobertura por árvores, o consumo de combustíveis fósseis e o transporte aéreo".
Soluções para diminuir os efeitos das mudanças climáticas
Segundo o grupo de especialistas, as soluções passam por "promover o controle da natalidade humana, desacelerar o desmatamento na Amazônia, aumentar o consumo de energia solar e eólica e diminuir o investimento institucional em combustíveis fósseis".
Para isso, dizem os autores, precisamos de transformações drásticas e arrojadas nas políticas ligadas a esses temas. Eles sugerem seis tópicos críticos e inter-relacionados a serem adotados por governos, iniciativa privada e o restante da humanidade para diminuir os efeitos danosos das mudanças climáticas. São eles:
1) Energia: substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis de baixo carbono.
O 7º ODS indica quais fontes de energia não emitem carbono para a atmosfera ou o fazem em níveis muito mais baixos que os provenientes de combustíveis fósseis
2) Poluentes de vida curta: reduzir imediatamente as emissões desse tipo de poluente, que inclui metano, carbono negro (o mesmo que fuligem, oriunda de queimadas e motores a diesel, por exemplo) e hidrofluorocarbonetos (gases usados na refrigeração).
3) Natureza: proteger e restaurar ecossistemas terrestres (fitoplâncton, recifes de corais, florestas, savanas, pastagens, pantanais, turfeiras, solos, mangues e ervas marinhas), pois eles retiram gás carbônico da atmosfera.
4) Alimentos: basear a alimentação humana nas plantas, reduzindo o consumo de produtos de origem animal, especialmente gado.
5) Economia: adotar uma economia livre de carbono que explicite a dependência humana da biosfera (conjunto de todas as partes do planeta Terra onde existe vida) e políticas que guiem as decisões econômicas de acordo com essa consciência. Para manter a sustentabilidade da biosfera, a excessiva extração de materiais e a superexploração dos ecossistemas, objetivando o crescimento econômico, devem ser rapidamente reduzidos.
6) População: diariamente, a Terra recebe mais 200 mil nascimentos humanos por dia, ou 80 milhões por ano. Esse quadro precisa mudar para que a população mundial se estabilize - e, idealmente, decresça gradualmente - com uma estrutura que garanta a integridade social.
Há políticas públicas comprovadamente eficazes que fortalecem os direitos humanos, assim como reduzem as taxas de natalidade, diminuindo os impactos do crescimento populacional nas emissões de gases de efeito estufa e na perda de biodiversidade. Essas políticas disponibilizam serviços de planejamento familiar para todas as pessoas, removem barreiras para acessá-los e alcançam a equidade de gênero, incluindo a educação primária e secundária como uma norma global para todos, especialmente meninas e mulheres jovens.
O documento lembra que há quarenta anos, cientistas de 50 nações reuniram-se pela primeira vez, em Genebra (1979), em uma conferência sobre o clima. De lá para cá, houve mais três encontros (Rio - 1992, Kyoto - 1997 e Paris - 2015), mas as emissões dos gases de efeito estufa continuam aumentando rapidamente. "A crise climática está intimamente ligada ao consumo excessivo do estilo de vida dos ricos. Os países mais desenvolvidos são os principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa", dizem os cientistas.
Clima
A seguir, cinco pessoas em diferentes partes do mundo explicam como as temperaturas extremas mudaram suas vidas.
'Temos muitas noites sem dormir'
Shakeela Bano costuma colocar as roupas de cama de sua família na laje de sua casa de um andar na Índia. É que algumas noites são muito quentes para dormir dentro de casa. Mas a superfície pode estar quente demais para andar."É muito difícil", diz ela. "Temos muitas noites sem dormir."
Shakeela mora com o marido, a filha e três netos em um quarto sem janelas em Ahmedabad. Eles têm apenas um único ventilador de teto para mantê-los frescos.
Com a mudança climática, muitas cidades na Índia estão agora atingindo 50°C. As áreas densamente povoadas e construídas são particularmente afetadas por algo conhecido como efeito de ilha de calor urbana. Materiais como concreto prendem e irradiam calor, elevando as temperaturas. E não há trégua à noite, quando pode, na verdade, ficar mais quente.
Em casas como a de Shakeela, as temperaturas agora chegam a 46°C. Ela fica tonta com o calor. Seus netos sofrem de erupções cutâneas, exaustão pelo calor e diarreia.
Os métodos tradicionais para se manter fresco, como beber água com limão, não funcionam mais. Em vez disso, eles pediram dinheiro emprestado para pintar o telhado de sua casa de branco. As superfícies brancas refletem mais luz do sol e uma camada de tinta branca no telhado pode reduzir as temperaturas internas em 3 a 4 graus.
"Eu venho de um lugar quente", diz Sidi Fadoua. Mas o calor no norte da Mauritânia, no oeste da África, agora é quente demais para muitas pessoas viverem e trabalharem. O calor aqui não é normal, diz ele. "É como fogo."
Sidi, de 44 anos, mora em uma pequena vila perto dos limites do Saara. Ele trabalha como mineiro de sal em locais próximos. O trabalho é árduo e fica mais difícil à medida que a região esquenta devido às mudanças climáticas. "Não podemos suportar tais temperaturas", diz ele. "Não somos máquinas."
Para evitar temperaturas acima de 45°C no verão, Sidi começou a trabalhar à noite.
As perspectivas de emprego são escassas. Aqueles que antes ganhavam a vida criando gado não podem mais fazer isso - não há plantas para as ovelhas e cabras pastarem.
Assim como um número cada vez maior de seus vizinhos, Sidi tem planos de migrar para a cidade costeira de Nouadhibou, onde a brisa do mar mantém a cidade mais fresca. Os moradores locais podem pegar uma carona lá em um dos trens mais longos do mundo, levando minério de ferro para a costa.
Patrick Michell, chefe do Kanaka Bar First Nation, começou a notar mudanças preocupantes na floresta perto de sua reserva em British Columbia, no Canadá, há mais de três décadas. Havia menos água nos rios e os cogumelos pararam de crescer.
Neste verão, seus medos se tornaram realidade. Uma onda de calor estava varrendo a América do Norte. Em 29 de junho, sua cidade natal, Lytton, bateu recordes, chegando a 49,6ºC. No dia seguinte, sua esposa enviou-lhe a foto de um termômetro que indicava 53ºC. Uma hora depois, sua cidade estava em chamas.
Sua filha, Serena, grávida de oito meses, correu para colocar seus filhos e animais de estimação no carro: "Saímos com as roupas do corpo. As chamas tinham três andares de altura e estavam bem ao nosso lado."
Patrick correu de volta para ver se poderia salvar a casa. Ele cresceu lidando com incêndios florestais. Mas, assim como o clima, os incêndios também mudaram. "Não são mais incêndios florestais, são infernos", diz ele. "Como você acaba com um inferno?"
Apesar das circunstâncias familiares, Patrick vê o que aconteceu como uma oportunidade: "Podemos reconstruir Lytton para o meio ambiente que está por vir nos próximos 100 anos. É assustador, mas em meu coração existe esse otimismo."
"Quando eu era criança, o clima não era assim", diz Joy, que mora no Delta do Níger, na Nigéria. A região é uma das mais poluídas da Terra, e os dias e noites mais quentes estão aumentando.
Joy sustenta sua família usando o calor de chamas a gás para secar tapioca e vender o produto em um mercado local. "Eu tenho cabelo curto", explica Joy, "porque se eu deixar meu cabelo crescer, ele pode queimar minha cabeça se a chama mudar de direção ou explodir."
Mas as chamas são parte do problema. As empresas petrolíferas as usam para queimar o gás que é liberado do solo quando fazem a prospecção de petróleo. As chamas, que atingem 6 metros (20 pés) de altura, são uma fonte significativa de emissões globais de CO2, que contribuem para as mudanças climáticas.
A mudança climática teve um impacto devastador aqui, transformando terras férteis em desertos no norte, enquanto enchentes repentinas atingiram o sul. As pessoas não se lembram de um clima tão extremo enquanto cresciam.
"A maioria das pessoas aqui não está bem informada o suficiente para explicar por que o clima está mudando rapidamente", diz Joy. "Mas suspeitamos das chamas contínuas."
Ela quer que o governo proíba a queima de gás, embora dependa disso para sustentar sua família.
Quase nenhuma riqueza do petróleo foi reinvestida na Nigéria, onde 98 milhões de pessoas vivem na pobreza. Isso inclui Joy e sua família. Por cinco dias de trabalho, eles ganham o equivalente a R$ 30 de lucro.
Ela não está otimista quanto ao futuro. "Acho que a vida (na Terra) está chegando ao fim."
'Este calor não é normal'
Seis anos atrás, Om Naief começou a plantar árvores em um pedaço de deserto perto de uma rodovia. Funcionária pública aposentada do Kuwait, ela estava preocupada com as temperaturas cada vez mais severas do verão e o agravamento das tempestades de poeira.
"Falei com alguns funcionários. Todos disseram que era impossível plantar algo na areia", diz ela. "Disseram que a terra era arenosa e a temperatura muito alta. Eu queria fazer algo que surpreendesse a todos."
"Quando eu era criança, o clima não era assim", diz Joy, que mora no Delta do Níger, na Nigéria. A região é uma das mais poluídas da Terra, e os dias e noites mais quentes estão aumentando.
Joy sustenta sua família usando o calor de chamas a gás para secar tapioca e vender o produto em um mercado local. "Eu tenho cabelo curto", explica Joy, "porque se eu deixar meu cabelo crescer, ele pode queimar minha cabeça se a chama mudar de direção ou explodir."
Mas as chamas são parte do problema. As empresas petrolíferas as usam para queimar o gás que é liberado do solo quando fazem a prospecção de petróleo. As chamas, que atingem 6 metros (20 pés) de altura, são uma fonte significativa de emissões globais de CO2, que contribuem para as mudanças climáticas.
A mudança climática teve um impacto devastador aqui, transformando terras férteis em desertos no norte, enquanto enchentes repentinas atingiram o sul. As pessoas não se lembram de um clima tão extremo enquanto cresciam.
"A maioria das pessoas aqui não está bem informada o suficiente para explicar por que o clima está mudando rapidamente", diz Joy. "Mas suspeitamos das chamas contínuas."
Ela quer que o governo proíba a queima de gás, embora dependa disso para sustentar sua família.
Quase nenhuma riqueza do petróleo foi reinvestida na Nigéria, onde 98 milhões de pessoas vivem na pobreza. Isso inclui Joy e sua família. Por cinco dias de trabalho, eles ganham o equivalente a R$ 30 de lucro.
Ela não está otimista quanto ao futuro. "Acho que a vida (na Terra) está chegando ao fim."
'Este calor não é normal'
Om mora no Oriente Médio, que está esquentando mais rápido do que grande parte do mundo.
Ela quer que o governo proíba a queima de gás, embora dependa disso para sustentar sua família.
Quase nenhuma riqueza do petróleo foi reinvestida na Nigéria, onde 98 milhões de pessoas vivem na pobreza. Isso inclui Joy e sua família. Por cinco dias de trabalho, eles ganham o equivalente a R$ 30 de lucro.
Ela não está otimista quanto ao futuro. "Acho que a vida (na Terra) está chegando ao fim."
'Este calor não é normal'
O Kuwait caminha para temperaturas insuportáveis - costuma ser mais quente do que 50°C. Algumas previsões sugerem que a temperatura média aumentará 4°C até 2050. No entanto, a economia do Kuwait é dominada pelas exportações de combustíveis fósseis.
Os dois canteiros que Om plantou são modestos, mas têm um propósito. "As árvores protegem da poeira, eliminam a poluição, limpam o ar e reduzem as temperaturas", diz ela. Ouriços-terrestres e lagartos de cauda espinhosa agora visitam o local. "Há água doce e sombra. É uma coisa linda."
Alguns kuwaitianos estão pedindo agora que um cinturão verde em grande escala seja plantado pelo governo. A esperança compartilhada é que o Kuwait esteja pronto para se posicionar contra a crise climática. Om diz que eles devem proteger a terra e não deixá-la secar.
"Este calor não é normal", conclui Om. "Esta é a terra dos nossos pais. Devemos retribuir, porque ela nos deu muito."