Conhecendo um pouco da história dos donos das terras do norte do Brasil

29/08/2021

A partir de fevereiro de 1617, a região seria palco de vários conflitos entre os portugueses e os tupinambás. No início, os índios desconfiavam dos portugueses, porque sabiam de outras tribos que haviam sido oprimidas e capturadas como escravas pelos colonos. Houve um choque, porque os tupinambás tinham uma relação amigável com os franceses, que estavam na região. Logo nas primeiras semanas, houve conflito entre portugueses e indígenas, porque Castelo Branco não conseguiu manter uma boa relação com os índios. Nas primeiras revoltas, os nativos enfrentaram grupos de colonos comandados pelo Sargento-Mor Diogo Botelho e pelo Capitão Gaspar de Freitas. As lutas resultaram em mortes de muitos indígenas e na destruição das aldeias do Caju e Mortiguera.

Os tupinambás sofreram abusos e foram tratados com violência. Em reação a essa conduta dos portugueses, as tribos se uniram para atacar os colonos na área de Belém. Porém, o Forte do Presépio estava muito próximo aos indígenas e os portugueses conseguiram enfraquecer rapidamente o movimento, graças às armas guardadas no forte.

A luta dos tupinambás para a expulsão dos portugueses de suas terras foi mais sangrenta e longa do que os conflitos com os povos europeus que ocupavam o território amazônico anteriormente. A brutalidade com que os portugueses tratavam os indígenas era uma forma de acabar com as revoltas rapidamente e colocar medo nos demais, para que não repetissem os atos. A maioria dos índios rebeldes eram mortos e alguns eram presos, principalmente os líderes, que costumavam ser levados para serem mortos pelos canhões. Os tupinambás também realizavam assaltos no povoado português, causando tensão pela região. 

Diante dos acontecimentos, Castelo Branco se recusou a conversar com o rei e solicitar ajuda. Ainda no ano de 1617, ele pediu para o alferes Francisco de Medina atacar os inimigos de surpresa. A tentativa foi falha, porque os portugueses atacaram duas canoas e os índios fugiram a nado. Nas várias batalhas entre os dois grupos, os índios não dispunham das mesmas armas que os portugueses, mas tinham uma boa estratégia de atacar e se retirar constantemente, como numa guerrilha. 

No começo de 1618, para proteger o povoado, o governo português decidiu recrutar o Bento Maciel Parente, que foi nomeado assistente do Antônio de Albuquerque em Pernambuco. Bento obteve algumas vitórias contra os índios, o que originou uma disputa entre os próprios portugueses. Antônio queria levar os créditos pela conquista.

No dia 13 de janeiro de 1618, os tupinambás do Pará e do Maranhão se uniram para fazer um levante contra os abusos dos portugueses, em defesa de suas terras. Muitos indígenas foram mortos e os abusos continuaram. Outras pequenas revoltas aconteceram ao longo do tempo, porque os índios estavam sempre em alerta. Para agravar a situação, o capitão Francisco Caldeira Castelo Branco perdia a credibilidade entre a população portuguesa. O sobrinho do capitão havia assassinado um homem sem motivo e não foi punido pela ação. Castelo Branco foi deposto de seu cargo e retornou a Portugal, onde foi preso em 1618. Os desentendimentos eram a oportunidade para um novo ataque dos índios. Assim, no dia 7 de janeiro de 1619, os tupinambás se reuniram para atacar do Forte da cidade de Belém. O líder indígena, Cabelo de Velha, foi morto pelos portugueses. Como resultado, os colonos invadiram e atacaram cruelmente as aldeias de Iguape e Guamá.

Consequências

Os conflitos brutais entre indígenas e portugueses resultaram em mortes e aprisionamentos. As relações entre os dois povos foi marcada pela violência e imposição dos lusitanos, muitas vezes disfarçada pela presença dos missionários. Baltazar Rodrigues foi enviado para substituir o capitão deposto Castelo Branco e teve o apoio do Capitão-Mor Jerônimo Fragoso para conter a situação de conflito na região. Com ele, Bento Maciel Parente, um colono conhecido pela crueldade, se deslocou ao local. O grande massacre promovido por ele fez com que os índios alguns sobreviventes se tornassem integrantes do exército português. Com o líder Cabelo de Velha morto, os demais foram obrigados a suprimir a revolta e se renderem, tornando-se prisioneiros de guerra. Os levantes dos índios acabaram servindo o esquema de captura de nativos para mão de obra escrava, reforçando as violências cometidas contra eles.

II Levante Tupinambá (7 de janeiro de 2021)

O "II Levante Tupinambá" em Belém é o movimento de retomada ancestral do território sagrado de Maery Tupã'mbae, deflagrado no dia 7 de Janeiro de 2021, durante o Ritual de Retomada realizado no Forte do Castelo, no mesmo dia e local onde em 1617 foi assassinado o Cacique Guamiaba Tupinambá, um dos líderes do Levante Tupinambá (1617-1621). O Ritual de Retomada é o aúncio e convocatória à luta de libertação social. Começamos a reunir o povo de Maery e com este ato político chamamos o Tocantins, Caeté, Colares, Maracanã, Cururupu e Cumã e se erguerem nas fileiras da luta antcolonial na Amazônia.