BOLSONARO, longe da vida real do brasileiro

10/09/2021

Distante da vida real, Bolsonaro eleva perigosamente o tom contra inimigos

O presidente acredita que existe uma conspiração para inviabilizar seu governo e, com arroubos retóricos, forma uma realidade...

Há quem acredite que Jair Bolsonaro impulsiona determinadas crises para desviar a atenção dos problemas que importam, disfarçar a inépcia do governo e se manter permanentemente sob os holofotes. 

Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito

BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro defendeu nesta sexta-feira, em conversa com apoiadores, a Declaração à Nação publicada na véspera, onde buscou um apaziguamento após ataques ao Judiciário, e disse que ninguém está recuando e "a gente está ganhando".

Criticado pelos bolsonaristas pelo que foi visto como um recuo de seus ataques e ameaças dois dias depois de ter reunido milhares de pessoas nas manifestações do 7 de Setembro, em São Paulo e Brasília, Bolsonaro conversou por mais de meia hora com dezenas de apoiadores na saída do Palácio da Alvorada.

"A bolsa subiu e o dólar foi lá para baixo. Cada um fala o que quiser. O cara não lê a nota e reclama. Leia a nota, é bem curtinha, são 10 pequenos itens. Entenda, a gente vai acertando. O acúmulo de lixo, de problemas, é 30, 40 anos. A gente está ganhando, a gente está ganhando", disse.


"Alguns querem que eu entre lá e degole todo mundo", acrescentou. "Ninguém está recuando. Não pode ir para o tudo ou nada. A gente vai arrumando o Brasil devagar."

A carta, divulgada na quinta-feira, foi escrita pelo ex-presidente Michel Temer depois que Bolsonaro apelou a ele para lidar com a crise provocada pelos atos do 7 de Setembro, que se avolumava com paralisações de caminhoneiros e conversas mais concretas sobre a possibilidade de impeachment do presidente.

O texto, em que, apesar de não pedir desculpas pelos ataques, Bolsonaro elogia o ministro do STF Alexandre de Moraes -seu principal alvo nas últimas semanas e na terça-feira- e diz não ter tido intenção de atacar instituições, repercutiu bem no mercado financeiro.

No meio político, assim como no STF, gerou declarações de otimismo contido junto com cautela e ceticismo. E muita decepção entre os bolsonaristas radicais, que defendiam impeachment de ministros do STF e até intervenção militar.

Decepcionados por terem saído de casa e não verem suas expectativas atendidas, bolsonaristas foram às redes cobrar o presidente. Em sua conversa nessa sexta, Bolsonaro elogiou o movimento, mas pediu paciência.

"Foi excepcional o trabalho de vocês. O retrato está no mundo todo e aqui também em Brasília. Alguns querem imediatismo. Se você namorar e casar em uma semana vai dar errado teu casamento", afirmou.

Hamilton Mourão disse nesta sexta-feira (10) que Jair Bolsonaro demonstrou "grandeza moral" ao divulgar, na quinta (9), a carta em que deixa de lado a retórica golpista e recua de seus ataques a Alexandre de Moraes."O presidente tomou essa iniciativa, teve a grandeza moral de entender e colocou por escrito", afirmou o vice-presidente em entrevista coletiva durante viagem à Amazônia. Mourão também classificou a carta de Bolsonaro como "mea-culpa" e disse acreditar na reaproximação entre o STF e o Planalto. avaliaram que os discursos do presidente Jair Bolsonaro neste 7 de Setembro em Brasília e, especialmente, em São Paulo agravaram a situação política dele em relação ao Judiciário e, no início da noite, começaram a debater entre si os caminhos para a reação no âmbito jurídico.

Segundo um ministro de um tribunal superior a situação é grave. Já foi iniciado o debate sobre saídas jurídicas tendo em vista que o Judiciário ainda não aposta que um processo de impeachment possa ser levado adiante, mas ainda há dúvidas ainda sobre qual caminho seguir. 

O certo, para essa fonte, é que cresce a tese da inelegibilidade de Bolsonaro em 2022.

São dois caminhos principalmente em debate. 

Um deles, o de cassar a chapa Bolsonaro-Mourão no TSE. Essa saída tiraria o presidente do cargo e o impediria de disputar a eleição. Para tanto, é preciso que sejam pautadas as ações de cassação de chapa que tramitam no TSE. Haveria, se fosse seguido esse caminho, a possibilidade de desmembrar a chapa de modo que o vice Hamilton Morão assumisse. Por isso que é um cenário que precisa do aval do universo político, tanto pelo estresse que causaria no país como com a possibilidade de um general assumir o país.

Um outro ministro afirmou que tudo dependerá de como o Ministério Público e os partidos irão contextualizar os fatos, já que o resto está devidamente fixado pela jurisprudência do TSE.

Outro caminho seria cassar o registro de candidatura de Bolsonaro em 2022. Essa solução, porém, demoraria mais tempo. A legislação eleitoral só permite que um pedido de cassação de registro seja feito após a candidatura ser registrada.

O prazo de registro é dia 15 de agosto de 2022. Até lá, porém, partidos podem apresentar representações por propaganda eleitoral antecipada com pedido para que ele se abstenha, por exemplo, de utilizar recursos públicos para fazer atos considerados de campanha antes do período legal.

Isso dentro de um entendimento que quando ele ataca as urnas, na verdade, já está se posicionando como candidato em 2022. Com isso, pretende-se construir uma linha do tempo de atos de Bolsonaro para, quando houver o registro da chapa, já haja elementos para apresentar uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral, por abuso de poder político e econômico.

Um terceiro caminho é aguardar o desenrolar do inquérito aberto pelo TSE para apurar a live que Bolsonaro fez atacando a urna eletrônica. Um resultado possível é que a live seja considerada propaganda antecipada e que o registro da candidatura não seja fornecido pelo tribunal. Essa saída, porém, também só ocorreria a partir de agosto do ano que vem.