Bolsonaro em reunião com líderes: "Índio quer trabalhar e pagar imposto"

12/08/2021

Do UOL, em São Paulo* 

12/08/2021 

Jair Bolsonaro foi para a entrada do Congresso Nacional para conversar com um grupo de indígenas da Tribo Piwanamã que estava reunido no local Imagem:

  12/08/2021 

O presidente Jair Bolsonaro disse hoje, após encontro com lideranças indígenas pró-governo, que trabalha para que os indígenas sejam vistos como "pessoas iguais a nós" e que muitos deles querem "trabalhar e pagar imposto". 

Ao criticar a resistência da oposição em relação a projetos relacionados a questões indígenas, como o que afrouxa as regras de demarcação de terras, Bolsonaro  também falou em dar "liberdade ao povo indígena". Ele ainda apresentou o discurso como se falasse sobre a totalidade dos povos indígenas, ignorando a forte resistência a sua política por parte de outras lideranças que não estavam no encontro.

"Tem o lobby do outro lado que quer manter nossos irmãos indígenas numa situação como se fossem pessoas que não são iguais a nós. Mas eles são exatamente iguais a cada um de nós: índio quer trabalhar, quer internet, quer o progresso, quer pagar imposto. Chegamos a esse ponto no Brasil e devemos dar realmente liberdade aos nossos irmãos indígenas", disse.

Participaram do encontro na manhã de hoje lideranças indígenas e o presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Marcelo Augusto Xavier da Silva. Dentre os temas abordados foi discutido o desenvolvimento de atividades produtivas em reservas indígenas.

Antes, ao cumprimentar os indígenas, que estavam na frente do Palácio do Planalto, Bolsonaro afirmou que seu trabalho é ajudá-los e "dar um norte para que vocês possam realmente produzir". "O Brasil todo quer isso", disse.

"É vocês fazerem dentro da terra de vocês o que o fazendeiro faz na fazenda vizinha", disse. "Algumas etnias já fazem isso, mas a grande maioria ainda está presa a uma legislação que deve ser mudada", completou.

Porém, vale lembrar que muitas outras lideranças indígenas que não estavam no encontro discordam da política do governo federal para o tema. O discurso de Bolsonaro sobre integração dos indígenas também é questionado por especialistas sobre a questão. Em junho, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara concluiu a votação de projeto de lei que afrouxa as regras de demarcação de terras indígenas.

A proposta é alvo de críticas da oposição e de lideranças indígenas, principalmente pela abertura de brechas para a exploração de atividades econômicas e de impactos ambiental e social negativos, como mineração e extrativismo de madeira, por pessoas de fora das comunidades indígenas. Um dos principais defensores dessa abertura econômica em terras indígenas é o próprio Bolsonaro. Depois da CCJ, o projeto seguirá para plenário da Câmara e, se aprovado, será encaminhado para a apreciação do Senado. Bolsonaro cumprimentou as pessoas e recebeu presentes, como cocares e outros acessórios indígenas. O presidente não usava máscara de proteção contra covid-19. O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), acompanhou o presidente na conversa com indígenas. 

Com informações do Estadão Conteúdo.

Índios e o meio ambiente

Apesar de não serem "naturalmente ecologistas", os índios têm consciência da sua dependência - não apenas física, mas sobretudo cosmológica - em relação ao meio ambiente. Em função disso, desenvolveram formas de manejo dos recursos naturais que têm se mostrado fundamentais para a preservação da cobertura florestal no Brasil.

Trata-se de um fato visível nas regiões onde o desmatamento tem avançado com maior rapidez, como nos estados do Mato Grosso, Rondônia e sul do Pará. Em levantamento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), por exemplo, as Terras Indígenas aparecem como verdadeiros oásis de florestas.

É fato que muitos povos indígenas, como os Suruí, Cinta-Larga e os Kayapó, tenham se atrelado ativamente a formas predatórias de exploração dos recursos naturais hoje em vigor na Amazônia, fazendo alianças principalmente com empresas madeireiras. Todavia, é preciso reconhecer que eles o fizeram submetidos a pressões concretas, contínuas, ilegais e como sócios menores desses negócios.

Hoje e no futuro, é preciso procurar mecanismos para potencializar as chances de os índios equacionarem favoravelmente o domínio de terras extensas com baixa demografia. 

Um desses mecanismos são as ainda incipientes formas de articulação de projetos indígenas com estratégias não-indígenas de uso sustentado de recursos naturais, sejam públicas ou privadas.

O que poderia ser feito para que os direitos dos indígenas fossem respeitados?

O governo poderia investir mais em fiscalização nas áreas de demarcação indígena para evitar que fazendeiros ou madeireiros invadam as suas terras. Além disso, eles poderiam conscientizar os índios sobre seus direitos e garantir uma qualidade de vida a eles.